21 de mar. de 2004

Relendo Barthes.... ou reflexões de um projeto

"Não posso me escrever. Qual é esse eu que se escreveria? À medida que ele fosse entrando na escritura, a escritura o esvaziaria, o tornaria vão: produzir-se-ia uma degradação progressiva, na qual a imagem do outro seria também pouco a pouco arrastada (escrever sobre alguma coisa é destruí-la), um desgosto cuja conclusão só poderia ser: para quê? O que bloqueia a escritura amorosa é a ilusão de expressividade: escritor, ou me acreditando como tal, continuo a me enganar sobre os efeitos da linguagem: não sei que a palavra sofrimento não exprime sofrimento algum e, por conseguinte, empregá-la, não somente não comunica nada, como também irrita logo (sem falar do ridículo).

Seria preciso que alguém me ensinasse que não se pode escrever sem elaborar o luto da sua sinceridade (sempre o mito de Orfeu: não olhar para trás). O que a escritura pede e que todo enamorado não lhe pode dar sem dilaceramento, é para sacrificar um pouco do seu Imaginário, e assegurar assim através da língua a assunção de um pouco de real. Tudo o que eu poderia produzir seria, no máximo, uma escritura do Imaginário; e , para isso, precisaria renunciar ao Imaginário da escritura - me deixar trabalhar pela minha língua, suportar as injustiças (as injúrias) que ela não deixará de infligir à dupla Imagem do enamorado e de seu outro"

7 de mar. de 2004

Ando emimesmada em função do meu projeto de dissertação. Meu tempo se esgota e parece que meu cérebro se esvaziou.

Ultimamente tenho me deparado com a questão do tempo. Do tempo dos tempos! Acabo de encontrar um livreto de poesias que fiz em 1982. Quanto tempo!

O mais curioso, é que revisitando o texto verifiquei que já naquela época me questionava sobre o tempo. Tempo de amar, de chorar, de construir, de ver o tempo passar.